sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

ABIM - A lição da águia

Pe. David Francisquini(*)

Como a águia que incita seus filhotes a voar, e esvoaça sobres eles, assim o Senhor estendeu suas asas, tomou-o e o levou sobre seus ombros. (Deut. 32, 11). Ao perceber que chegou o momento de os filhotes alçarem vôo, instintivamente a águia retira do ninho toda a parte macia que o acolchoa, deixando tão-só os pontiagudos gravetos. Incomodados, os filhotes se lançam sobre as asas dela. É o momento de a águia se lançar pelos ares, para que as aguiazinhas percebam, pela primeira vez, os espaços de que são possuidoras.

Após o vôo de reconhecimento, sempre atenta e sem perder o instinto materno, a águia os força ao vôo livre. Se, por acaso, algum filhote encontrar dificuldade neste primeiro teste, a águia lança-se prontamente em vôo picado, a fim de se colocar sob ele à maneira de uma pista de pouso, e o recolher assim são e salvo. Vai repetir o exercício até sentir segurança no filhote; ensiná-lo-á a caçar e a fugir dos perigos até o momento de dar sua missão por cumprida.

Mutatis mutandis, na educação de uma criança, na formação de um jovem ou na condução de um povo, tudo deve ser empreendido para lhes proporcionar proteção, carinho, conforto, segurança, alimentação, saúde e bem-estar. Mas isto não basta. Sobretudo importa desenvolver nas pessoas as aptidões que Deus depositou no vaso precioso de suas almas: as virtudes infusas e o querer da vontade para que possam viver retamente.

À maneira da águia com seus filhotes, pais e educadores devem exercitar os jovens com disciplina e método a trilhar os caminhos deste passageiro mas perigoso peregrinar pela Terra. Embora o pecado original tenha privado o homem da graça divina e despertado nele a concupiscência, todavia não eliminou as faculdades essenciais relativas à sua vida exterior.

A nós, homens decaídos, restam sempre a inteligência, a vontade e a liberdade. Cabe-nos dominar as paixões desordenadas com a ajuda da graça e tornarmo-nos virtuosos. Para isso, possuímos os tesouros sobrenaturais que Deus concedeu à sua Igreja através dos sacramentos. "Vigiai e orai para não cairdes em tentação", é o conselho divino. Será, com efeito, uma batalha para a vida toda, que só terminará com a morte. Se formos fiéis aos seus ensinamentos, atingiremos a perfeição querida por Deus.

Autores que tratam de questões de vida espiritual indicam um princípio sábio e profundo: para a prática do bem não basta ao homem a força coercitiva externa. Ele precisa ser formado em seu interior para ter sede e fome de justiça, para amar e obter o santo temor de Deus, para fazer o que se deve livre e espontaneamente, com alegria de coração.

Este poder e esta força para formar e dirigir o caráter do homem e civilizar a sociedade são simbolizados pelas chaves dadas a Pedro e à Igreja Católica Apostólica Romana. Daí a necessidade de padres santos, missionários virtuosos, freiras dedicadas, leigos virtuosos e instruídos para serem formadores de opinião em seus respectivos ambientes.

Assim o sal salgará e a luz iluminará. Bendito os pés que trilharem as vias dos Mandamentos. Benditos os olhos que contemplarem a Lei do Senhor. Bendito o coração que fizer a delícia dos seus dias em amar o seu Deus e Senhor. À maneira da águia, poderemos contemplar o Sol da justiça e da misericórdia. (*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria -- Cardoso Moreira (RJ)

1 comentários:

Sou mãe e catequista e após ler está matéria questionei-me se eu tenho agido como uma águia, com relação aos meus filhos e catequisandos.
O texto é de muito bom gosto e muito claro, alertando-nos para a nossa missão de batisados: de sermos profetas, anunciando o Reino de Deus e denunciando as injustiças contra o Reino e contra o povo de Deus.
Parabéns Pe. David Francisquini.

Divulgue

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