sábado, 5 de abril de 2008

Ruanda: país africano vítima do igualitarismo revolucionário

O legítimo rei dessa nação, Kigeli V, exilado nos Estados Unidos, descreve a dramática situação de sua pátria dividida entre duas etnias: os tutsis e os hutus.

A milenar monarquia de Ruanda foi mantida pelos belgas durante o período colonial.

O presente monarca, Jean-Baptiste Ndahindurwa, rei Kigeli V, subiu ao trono quando do falecimento de seu irmão, rei Mutara, em 1959.

Em 1940, seu pai, rei Musinga, foi exilado pelos belgas, com toda a família. Jean-Baptiste Ndahindurwa voltou para Ruanda para completar seus estudos (1944 – 1951) e, depois, para trabalhar com a administração belga (1956 – 1959).

Dois anos após sua ascensão ao trono, ele foi impedido pelo governo belga de voltar a seu país, depois de uma visita ao Congo belga para encontrar-se com o Secretário-Geral das Nações Unidas. Essa ação arbitrária foi motivada pelo desejo da Bélgica de suprimir a monarquia tradicional antes de conceder independência a Ruanda, em 1962. Cedendo aos falsos princípios da Revolução Francesa, a monarquia belga destruiu o equilíbrio existente entre tutsis e hutus, criando as condições para os contínuos conflitos entre esses dois grupos, após a independência. O rei, com efeito, é tutsi, mas também descende de hutus.

Se bem que os tutsis e os hutus sejam considerados dois grupos étnicos separados, os entendidos assinalam a realidade de que falam a mesma língua, têm uma tradição de inter-casamentos e compartilham muitas características culturais. Tradicionalmente, as diferenças entre os dois grupos eram mais ocupacionais do que étnicas. Os agricultores eram considerados hutus, enquanto a elite, que se dedicava a criar gado, era identificada como tutsi. Supostamente uns são altos e magros, enquanto os outros são baixos e gordos; mas, na realidade, é difícil muitas vezes distinguir uns do outros.

Sua Majestade o rei Kigeli V tem vivido no exílio desde a independência de seu país. Católico fervoroso, o monarca apóia as atividades da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Na região de Washington, onde reside, freqüenta a sede do Bureau da TFP.
Esta entrevista foi concedida a nosso correspondente C. Preston Noell III.

* * *

Catolicismo — Qual era a situação da monarquia em Ruanda, quando V.M. subiu ao trono?
Rei Kigeli — Os chamados padres brancos foram os pioneiros do catolicismo em Ruanda. Meu pai estava no poder e era cristão, mas não praticava o catolicismo. Não gostava disso, mas não dificultava a atuação dos padres. É difícil fazer compreender a Religião católica nos países da África. Os filhos dele foram batizados pelos sacerdotes, e ele deu exemplo à população de Ruanda, que naquela época era de dois milhões de habitantes, e hoje são oito milhões. Então, todo mundo em Ruanda passou a ser cristão. A maioria agora é cristã. Os católicos, na época de meu pai, eram verdadeiramente praticantes, e é por isso que nós, os príncipes, desejando seguir o exemplo de nossos irmãos na fé, procuramos ser batizados e tornar-nos católicos. Quem me orientou para ser cristão, de fato, foi minha mãe. Parece que meu coração era tíbio. Uma vez, tendo ela me acordado para ir à missa às seis horas da manhã, disse-me que, em vez de ir de automóvel, iríamos a pé e descalços. Como eu perguntei o motivo disso, ela disse que Jesus Cristo também sofreu, e ela queria agir como Ele. Eu a acompanhei assim, cegamente, sem saber bem o que fazia. Fui à igreja e fiquei ao lado dela, diante da imagem da Santíssima Virgem. Depois fui brincar com outros jovens, e esqueci-me de que minha mãe se encontrava na igreja rezando. Como eu queria ir-me embora e a igreja se fechava, através da porta vi que minha mãe ainda estava lá orando. Assim, comecei a entender como é ser cristão e amar a Santíssima Virgem. Eu sou devoto da Santíssima Virgem. Tudo o que eu preciso, vou vê-La imediatamente e pedir-Lhe sem hesitar.

Catolicismo — Em Ruanda, quais foram as congregações católicas mais célebres?
Rei Kigeli — As congregações de padres e freiras brancos belgas, os jesuítas, os josefistas, os padres e freiras maristas.

Catolicismo — Como se deu a derrubada da monarquia?
Rei Kigeli — A Igreja Católica influenciava a política, sobretudo o Bispo Mons. Perodi, que favoreceu os hutus, tendo os tutsis sido postos de lado. Nesse momento, ele contribuiu para a queda da monarquia e para dar o poder a Kaiyabanda, presidente da República de Ruanda. Passou a existir conflito entre tutsis e hutus. Antes, nós havíamos tido mil anos de reinado em Ruanda, sem nenhum problema. A política desgostou os tutsis, que começaram a se dividir.

Catolicismo — E qual a atitude do governo belga?
Rei Kigeli — O governo geral belga, que governava Ruanda e Burundi, começou a favorecer os contrários aos tutsis, pois eles não gostavam destes. Havia problemas entre os tutsis e hutus favorecidos pelos belgas, que se utilizavam da Igreja Católica. Havia escolas católicas por toda Ruanda, financiadas pelos belgas. Foi isto que provocou todas as desavenças.

Catolicismo — Quais eram os problemas existentes entre os hutus e os tutsis?
Conflitos internos no país ocasionaram fugas em massa de ruandeses para nações vizinhas
Rei Kigeli — Não havia problema, mas naquela época os tutsis eram minoritários, e os hutus majoritários. E começaram a perguntar a razão pela qual o rei teria que ser tutsi: se é porque estes são superiores, etc. E diziam que os hutus poderiam também ter rei. Mas esqueceram-se de que a Bélgica tem um rei. Ora, se a Bélgica tem um monarca, por que destituir nosso rei e nos expor à experiência de uma república? Por que começar essa mudança em nossa casa? Quem quer indicar algo como exemplo, que siga o exemplo próprio. Concederam o governo de Ruanda a um coronel. Este comunicava que tinha por missão tirar os tutsis do poder e colocar os hutus.

Catolicismo — Qual a situação de Ruanda hoje?
Rei Kigeli — Neste momento, Ruanda não me parece bem — não está numa situação boa, porque realizaram eleições sob uma ditadura. Não há liberdade de expressão. Dizem que apreciam a democracia, mas se alguém aponta algo que não está bem, vai para a prisão. Há muita corrupção. O Banco Mundial e outras organizações dão dinheiro para a construção de estradas, casas, etc.

Catolicismo — Quais são suas esperanças em relação à pátria de V.M.?
Rei Kigeli — Ruanda precisa de uma verdadeira democracia. Há os que amam a monarquia e os outros que preferem a república. É necessário que se faça um referendo honesto, perguntando à população se deseja um rei ou uma república. Se fizerem isso, tudo bem. É necessário não forçar nada. Mas numa ditadura, e sem partidos políticos?...

Catolicismo — V.M. quer dirigir uma mensagem aos católicos brasileiros?
Rei Kigeli — É preciso que os católicos auxiliem Ruanda. E eu conto com as orações dos católicos brasileiros nesse sentido.

Fonte: Revista Catolicismo

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